CRIANÇA SEM LAR
Criança que chora
No seio da rua,
Pequena, indefesa,
Descalça e tão nua,
Suplica a bondade
De um tal Sireneu.
Não sabe o que quer
Nem mesmo quem seja,
So sabe, deseja,
Sair desta lama,
Seu corpo pequeno
Na rua só clama,
Pois sabe que a ânsia
Da ajuda esqueceu.
Que faz a criança
No seio da rua?
Não é por ventura
O tal filho que quis?
A rua, o carinho
Lhe nega, e baixinho
Repete teu nome:
“Mamãe”, ele diz.
Mirando-te ao rosto
Este feto pequeno
Te chama com aceno
Querendo-te então.
E passas, não rente
Que ao vê-lo na lama,
Não ouves que chama,
Não tens compaixão.
E fica a criança
No seio da rua,
Qual voz que insinua,
Parece que diz:
Se choro insistente
E não sentes o aceno
Meu corpo pequeno
Não sejas feliz!
Patos, 01.09.84