CRIANÇA SEM LAR

Criança que chora

No seio da rua,

Pequena, indefesa,

Descalça e tão nua,

Suplica a bondade

De um tal Sireneu.

Não sabe o que quer

Nem mesmo quem seja,

So sabe, deseja,

Sair desta lama,

Seu corpo pequeno

Na rua só clama,

Pois sabe que a ânsia

Da ajuda esqueceu.

Que faz a criança

No seio da rua?

Não é por ventura

O tal filho que quis?

A rua, o carinho

Lhe nega, e baixinho

Repete teu nome:

“Mamãe”, ele diz.

Mirando-te ao rosto

Este feto pequeno

Te chama com aceno

Querendo-te então.

E passas, não rente

Que ao vê-lo na lama,

Não ouves que chama,

Não tens compaixão.

E fica a criança

No seio da rua,

Qual voz que insinua,

Parece que diz:

Se choro insistente

E não sentes o aceno

Meu corpo pequeno

Não sejas feliz!

Patos, 01.09.84

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 14/07/2008
Reeditado em 15/07/2008
Código do texto: T1079631
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