POEMUNIÇÃO
Minha poesia é
arma
que trago dentro do peito
e com o dedo no gatilho
á empunho ferozmente
Desenrola faceira
feita a cabrocha que
habita em meus olhos
Pra fazer de morada
os rostos rochosos
e o vazio do peito
E os versos chapados...
Chapado feito à vida
Nem deseja acadêmicas escolas
nem cadeira de chefe
nem coquetéis de casarões
nem o sorriso amarelo do burguês
Mas, necessita de compasso,
das andanças do boêmio
e o jeitinho de ser da pretinha
pra se fazer companheira
ao meu poema
Chapado feito a vida.
A poesia que trago
me traga... Não toca o céu
nem tão pouco as estrelas
Mas leal ao povo
serve de protesto
e cospe na cara do patrão
e o outro racista
que traz no âmago
o genocídio
A poesia que componho
se faz no meu passo
feito a menina que
nos três dias de alforria
sapateia descalça na avenida
Na busca do amor e do ódio
a epopéia faz cerco
desmancha em sorriso
nessa nossa roda
poética da resistência
O verso simples
traz nos traços revolta
feito um sonho em ebulição
não serve de banquete ao tirano
é munição pra guerrilha
do bonde dos Firmino
chapado feito a vida
O poeminha,
se faz de abraço
e a criança negra sorriu
da traquinagem com as palavras
que o poetinha travesso
sacou.
A poesia que me compõe amada
outrora granada explodiu em minh’alma
e os lábios sedentos
ainda palpitam em erupção
Minha poesia é arma,
e a folha campo de concentração
saltam do tiroteio
negros poemas
rebelados marcham
e se refugiam
no entrincheirado coração...