CONFISSÃO
Amanheci disposto a me confessar,
disposto a poetisar
versos que me revelem
por inteiro...
Direi primeiro
o que primeiro me vier
e se puder
definirei em síntese suscinta,
tudo que a alma pressinta
ser a essência, a sutileza!
Que se torne certeza
o sussurro da voz interior,
vestindo em forma e cor,
as impressões mais íntimas
as alterações mínimas,
que materializam os pensamentos
impulsionados pelo vento
impetuoso da inspiração!
E que leve de roldão,
a hipocrisia oficial
que insiste em ditar
as normas do que é normal!
Sou alma envelhecida,
enojada da estrutura carcomida
da sociedade atual!
Sou alma estranha
que provoca a sanha
dos manipuladores da opinião!
Sou artífice da poesia
e escrevo heresias
de difícil digestão.
Mas como posso me omitir,
deixar de divergir
da mídia oficial?
É dever de quem pensa,
afrontar o monopólio da comunicação,
o lixo da TV
onde o que se vê
não merece atenção!
Amanheci disposto a me confessar
e não posso me calar
frente a crítica duvidosa
desta gente inescrupulosa,
que banalisa o bom senso,
com o seu pretenso
padrão global.
Que se mude o padrão,
da fábrica de ilusão
que corrompe e manipula
a multidão esfomeada
de cenas fortes e picantes,
violentas e anestesiantes.
Consumidores da pornografia,
assinantes da idiotia,
telespectadores do banal,
ouvintes do lixo musical,
me confesso avesso a este mal gosto,
que mantêm os índices de audiência,
da anarquia, da complacência!
Falta de cultura,
de decência, de inteligência,
exibir em horário nobre,
o cardápio pobre
que sacia a multidão!
Melhor desligar o rádio e a televisão,
melhor mesmo me confessar
em outra ocasião!!!