O SERTÃO CHORA

O poema foi musicado por Wilson Aragão, autor de Capim Guiné com Raul Seixas, e virou hino dos sem-terra:

A seca que abate a gente

tira a comida da mesa

o sertanejo (nordestino) humilhado,

não esconde sua tristeza:

finca a enxada no chão

e, naquele poeirão,

sobe um mundo de incerteza.

O sertanejo resiste,

forte como um pau-pereira

clamoroso é ao que se assiste

nesta nação brasileira,

onde uns têm tudo farto,

mulheres morrem de parto

nos braços de uma parteira.

Na seca a politicagem

dos coronéis faz parada

homens aqui são tratados

como se fossem boiada.

Triste sertão de "caboclo",

onde um voto vale pouco,

onde a vida vale nada.

Passa a seca vem a chuva

e nada de melhorar,

porque o governo nega

semente pra semear,

e o latifundiário,

pra aumentar o calvário

nega terra pra plantar.

Desrespeita-se a velhice

abandona-se a infância

as escolas desmoronam

por injúria ou traficância,

do saber poucos se apossam

e as criancinhas engrossam

o Exército da ignorância.

Terra que produz de tudo

- do feijão ao babaçu -

teu povo é escravizado

no açoite do couro cru;

come restos de ração,

bebe a lama do porão,

não tem roupa - anda nu.

Semblantes desfigurados,

corpos esqueléticos nus,

enquanto nutrem a esperança

num milagre de Jesus,

disputam pelas estradas

brutos já mortos, ossadas,

com bandos de urubus.

Asfora falou um dia

dos seios sem leite, murchos

das veias brancas, sem sangue,

que nem algodão - capuchos -,

enquanto reina a alarvia

da elite que um dia

terá de perder os luxos.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 08/07/2008
Código do texto: T1070620