SEM MEDO DE PODER
SEM MEDO DE PODER
(MIGUEL LUCENA)
Se nem a guerra cruenta,
que ceifa milhões de vidas:
Se nem a faca bandida,
que ao seio firme ensangüenta:
Se nem a tara nojenta
de quem te rouba o prazer
te faz sucumbir, ceder,
então fites o infinito:
Liberdade! - este é teu grito
nas cancelas do poder
Por que temer o poder,
se as bombas americanas,
se a miséria africana
não te fizeram tremer?
Pior do que o sofrer
de enfrentar a reação
é sentir a humilhação
das croatas estupradas,
é viver acorrentada
aos pés da submissão!
A volúpia que consome
milhões de prostituídas
flores na lama caídas - ;
o bebê morto de fome
no útero de quem não come
na miséria nordestina
não são acaso da sina.
É o dragão da maldade
que exclui mais da metade
de uma Nação feminina.
Ser só fonte de prazer,
enfeite de candidato,
rainha de lavar prato
quando há o que comer?
Não! Rache ao meio esse poder,
mulher que ganha de meia!
Toque fogo nessa peia
que te marca tão profundo,
E assim construa nosso mundo
com paz, cimento e areia.
Salvador, 21/08/96.