O mais nobre olhar
O menino andou a noite toda,
como um incansável ser .
Procurou nas sobras um gosto
de um prato e de um copo,
Que em outrora fez a vez da refeição,
mal recebida pelo homem de ricos carros.
O menino me olhou nos olhos
e eu vi,
a fome do mundo em seu nobre olhar.
E a minha garganta fechou-se,
calou-se.
O menino já era um homem,
por tudo que já sabia
e o que já tinha aprendido e ensinado.
Eu ainda posso ver seus chinelos,
que serviam de calçados
aos seus pés pequenos e frágeis.
E suas vestes que mal lhe cabiam ao corpo,
maltrapilho, sujo e mal cuidado.
O menino, meu Deus.
É um ser humano!
Ele me olha com sede de vida.
Com sede do amor que nunca teve.
Com sede dos valores que nunca lhe passaram.
O menino me olha nos olhos.
Como nem um outro alguém o faz.
Onde estará sua esperança?
Onde estão os palhaços do circo?
Onde está o cobertor que o cobre?
E o aconchego de um abraço?
Menino sente-se,
e eu lhe conto uma história.
De um passado distante,
História de príncipes,
e encantadores mágicos.
Onde o homem era o ser mais simples e belo.
Naquela época tristeza não existia,
e os sorrisos eram de todas as cores que se pudesse imaginar.
O dinheiro era apenas papel,
e seu sorriso valia mais que uma nota de cem reais.
Naquele tempo os olhos do mundo eram abertos,
e os corações podiam sentir.
Menino tu serias o príncipe da mais nobre aldeia,
e este teu sorriso seria reconhecido em todos os cantos.
Estas ruas que vês,
seriam nossos passeios matinais,
e não o ser lugar.
É meu caro menino,
o mundo está mudado.
A moeda vale mais que uma vida,
e os sorrisos foram abandonados.
Me digas;
tu já vistes a felicidade?
Ela anda escondida,
está atrás destes teus olhos sofridos.
Ela precisa voltar a viver.
Assim como nossas vidas
que precisam ser reorganizadas.
Menino dentre muitos meninos,
que vestem as roupas do mundo
e que são as consequências desse enorme absurdo.