A VOZ DA MINHA GENTE
Eu sou o acadêmico, que se assenta na luxuosa bancada das massas;
Os ternos e gravatas que visto, são meus rigorosos ultrajes;
Pertenço à alta sociedade dos excluídos: meus declarados comparsas;
Sou poeta que declama nas ruas, sou o compositor das lajes!
Sou orgulhoso filho da alta linhagem nordestina;
Embaixador convicto, da voz analfabeta de meus avós operários;
Escudo invulnerável a resistir, essa fina gente que nos discrimina;
Inimigo do discurso racista, que nos impõe os mais pesados erários!
Eu sou o singelo poeta, que se alimentou nas sobras da nata literária;
Que verseja em nome do suor, que edificou as grandes metrópoles;
Porta-voz do pau-de-arara, que transportou realidades imaginárias;
Expositor dos bons frutos, oriundos dessas sementes piores!
Um dia estarei na Academia, tomando um chá de histórico resgate;
Cobrando o débito social, pendente com a minha gente;
Quebrando as algemas, desse povo forte que apanha e não se abate;
Publicando linhas que falam de um Brasil mais parecido com o seu diferente!!