Data Venia...
Compadre Lemos
"-Senhor Presidente,
nobres colegas,
senhoras e senhores...
é preciso salvar o menor!
Diria mesmo, senhores,
que hoje, a maior urgência,
o nosso problema maior,
é o menor!
Sim, o menor
que morre nos cruzamentos,
vendendo cigarro e bala,
como quem pede socorro.
O menor, que furta nas lojas,
que mora nas ruas,
que briga, que cheira cola,
como quem chama atenção.
-Ei!... Eu estou vivo!
Sim, o menor,
esquecido nun canto,
sem pai, sem mãe, sem história
e que não dorme: se esconde ,
de frio, de chuva e medo,
nos becos, tantos, da vida!...
Menor, ferida aberta
que preferimos não ver!
Menor, cãozinho perdido
que um dia, na infância, achamos.
-Posso ficar com ele?...
Meu Deus!... Onde foi que perdemos
este antigo semtimento
de pena de bicho e gente?...
Façamos, pois, uma lei
que seja definitiva
e observada nas praças,
nas ruas, todas, da Terra:
Fica proibido não ver o menor.
Fica proibido esconder a mão.
É crime, de hoje em diante,
passar, como quem não viu!...
Tenho dito!..."
Aplausos e cumprimentos
ao Senhor Vereador
que deixa, lento, a tribuna.
(Será que alguém notou
a mão, limpando a lágrima
teimosa no olhar cansado?)
É que há leis, em nosso país,
que foram feitas - parece -
para não serem cumpridas!
E assim será, sempre,
enquanto estivermos calados!
***
Sem comentários!...