A INCULTURA POPULAR
No reino da contradição, fala-se da riqueza cultural de um povo pobre;
Povo feliz e festeiro, dono de bocas e panelas vazias;
Na côrte do rico ele é bôbo, nos templos do pão e circo, ele é nobre;
Preso a um pelourinho ideológico, na senzala vive um baile à fantasia!
Esse povo é famoso, sua arte viaja os confins do planeta;
Mestres da bola, mulher "abundante", o maior carnaval;
Vê-se sua miséria facilmente, mas a dignidade requer lunetas;
Luxo e orgulho na escola de samba, lixo e vergonha na escola formal!
Na cadência dos maracatus, segue a plebe disputando vísceras a tapas com urubus;
Na matraca do bumba-boi, dança feliz o pai de família sem emprego;
Na mão direita a sombrinha do frevo, na outra a ignominiosa cruz;
O idioma festivo é recorrente, a linguagem inclusiva lhe é grego!
Eis o meu povo, que segue sorrindo rumo ao próprio matadouro;
Desnutrido de letras, cego perante a conspiração de coletiva loucura;
Povo a quem se engana, cujo drama, para alguns gera ouro;
Povo inculto, a quem se convenceu que festejar é cultura!!