A INCULTURA POPULAR

No reino da contradição, fala-se da riqueza cultural de um povo pobre;

Povo feliz e festeiro, dono de bocas e panelas vazias;

Na côrte do rico ele é bôbo, nos templos do pão e circo, ele é nobre;

Preso a um pelourinho ideológico, na senzala vive um baile à fantasia!

Esse povo é famoso, sua arte viaja os confins do planeta;

Mestres da bola, mulher "abundante", o maior carnaval;

Vê-se sua miséria facilmente, mas a dignidade requer lunetas;

Luxo e orgulho na escola de samba, lixo e vergonha na escola formal!

Na cadência dos maracatus, segue a plebe disputando vísceras a tapas com urubus;

Na matraca do bumba-boi, dança feliz o pai de família sem emprego;

Na mão direita a sombrinha do frevo, na outra a ignominiosa cruz;

O idioma festivo é recorrente, a linguagem inclusiva lhe é grego!

Eis o meu povo, que segue sorrindo rumo ao próprio matadouro;

Desnutrido de letras, cego perante a conspiração de coletiva loucura;

Povo a quem se engana, cujo drama, para alguns gera ouro;

Povo inculto, a quem se convenceu que festejar é cultura!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 25/06/2008
Reeditado em 25/06/2008
Código do texto: T1050461
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