Infância
Não se ouve nada meu Deus!
O que é que fazem com a população?
Quantas vezes eu quis ouvir os pássaros,
O que ouço é o ronco dos caminhões
No vai e vem do nada, mais uma criança
Entrega-se por qualquer tostão.
Aquela menina de trança, hoje usa alto,
Desfilando seu corpo á qualquer porco.
Um dia sonhou ser Cinderela, por instantes,
Ouvia de sua avó, ser bela.
Tem agora sua vida sustentada por coquetéis
E outras substâncias cujo uso lhe causou dependência.
Aquele garoto! Não o vejo mais.
Certo dia, quase sem querer com lagrimas
Pela face, me revelou que sonhava fazendo gols,
E vibrava agradecendo á quem o criou.
Depois de anos ao retornar a casa de seus avos,
Trazia nas mãos um novo par de sapatos,
E um vestido lindo de bordado, dedicando á quem
Mereceu todo seu amor, mesmo que bruto.
Esse menino já inerte está agora
Não próximo de gols, mas á sete palmos sob a terra.
Sobre ele não há gramado
Mais um vasto coberto de barro.
Pensei que fosse tristeza, ouvi sussurros, tudo isso é o futuro.
Começa mais uma história sem bases sólidas,
Outra criança na barriga sem
Sobrenome que sobrevive pra viver.
Sem chinelos, sem direitos, sem casa, sem comida
Sem assistência medica, sem dinheiros,
Sem chaves, custa menos os ferrolhos.
Sem falas, aí está o por que não se ouve nada.
Na cidade que vela, mais um barraco é armado na favela.
Jane Krist Coffee