Apenas silêncio...
Apenas silêncio...
E a multidão cala-se diante do decidido mundo.
Poetas pedem esmolas pelos quatro cantos da cidade
E aquele velho anjo chora atrás da porta,
Implorando por carinho.
A última rosa morreu...
Os homens, alucinados, gritam por liberdade;
E no entanto, invadem nossas casas em nome de um deus roubado.
Feridos, buscamos um templo esquecido pelos tempos.
Se faz tarde...
E no silêncio da noite a covardia toma conta de nossas almas;
Os labirintos malditos fecharam suas portas;
E já não temos tanta pressa.
Dos sonhos, restou apenas o fracasso de não sabermos arriscar.
O destino está muito além desse horizonte;
E o engraxate da quarta rua,
Brinca de faz de conta no lado escuro da lua.
Acostumados com o vazio, esses seres feitos de pedaços,
Carregam no colo restos de verdade.
Entre risos e tropeços,
Criaram-se abismos.
Entre amores e paixões,
Pecamos pelas palavras.
E de tudo que achávamos tão certo,
Esquecemos de ser gente.
Os sábios, afogaram-se em sua sabedoria;
Os profetas, perderam-se por entre seus rascunhos.
Os ateus procuraram por Deus.
E nada acontecia deste jeito.
Políticos e amantes tornaram-se um só.
Das promessas, chegamos até mesmo a pensar que restaria uma única princesa, um único cavaleiro...
A planar por entre as florestas
(agora tão desertas de amor)
O Sol padece diante dos absurdos da nossa existência.
E entre gritos e trovões,
Surge apenas o silêncio...
(escrita em 1991 - inspirado na Guerra do Golfo)