A Indigência dos Indigentes
corpos andantes
sem rumo
sem tino
sem nada
ocos
envelhecidos
esquecido
rasgados
em frangalhos
sem atenção
jogados à marginal
famintos
medrosos
perdidos pro mau
a quem vós pertenceis
aquele ou aquilo?
filho feio não tem pai
indigente sem dote
quem sabe alguém note
um dia com sorte
um pedaço de pão
largados ao tempo
dormindo ao relento
cada noite que passa
pode ser decisão
quem sabe a morte
lhe acorde com choque
fazendo a visita
na vida prisão
quem sabe assim
de cara com fim
suspire aliviado
por largar o cajado
onde esteve apoiado
a espera da vida
que lhe deu um não
seja levado
ao céu azulado
da fome saciado
de espírito lavado
olha pro mundo
com pena da gente
que se preocupa com tudo
menos com o indigente.