O HOMEM E A LIXEIRA



Era noite de junho,
o frio dava seus sinais
num assovio fantasmagórico
pelos fios de alta tensão.
Do lado de um prédio chique,
perto de uma estação chique
de um bairro chique,
uma lixeira estava abarrotada de lixo.
Pleonasmo? Não sei, mas é que
costumeiramente nas lixeiras
também são encontrados bebês,
fetos e bichos...
Pois bem... Do lado da lixeira
havia um homem vestido apenas
com sua pele encardida,
salvo um calção de igual aspecto,
que escondia sua nudez proibida.
Ele começou revirar o lixo.
Ele começou revirar os sacos.
Ele buscava um tesouro!
Sim, ele buscava desesperadamente
um tesouro perdido dentro da lixeira.
Mas não era ouro e nem prata
era arroz e feijão,
era as sobras dos pratos
dos homens fartos.
O homem e a lixeira se misturavam
na penumbra da paisagem fria.
Era um homem e uma lixeira suja e velha.
Ele misturava-se com o lixo,
ele tinha a cor do lixo,
ele tinha o cheiro do lixo
e tinha um estômago assanhado
pelo sabor do lixo!
Mas o homem era triste!
Ele não tinha esperanças,
ele não tinha sonhos,
ele não tinha ninguém.
Era só ele e a sua dor de solidão.
Mas ele tinha um olhar de piedade
e um grito calado no peito,
suplicando socorro, clamando misericórdia!
E ao enxergar isso no homem só,
pude ver dentro dele uma alma
tão branca quanto as neves dos alpes
e também pude ver nas pessoas
chiques que passavam
uma alma tão negra quanto as penas
dos melros que revoam nos recônditos
do meu sertão.
luznaentradadotunel
Enviado por luznaentradadotunel em 12/06/2008
Reeditado em 06/01/2010
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