CRUZ E CRAVOS
No caminhar insólito
que nesta vida me vejo
recebo como prêmio
as pedradas que me atiram
por ser um filho andejo.
Por não calar minha voz
diante de realidade atroz
perjuram-me de algoz
na ânsia insana, sagaz, veloz
caindo a humana máscara da fera feroz
Sou num instante transformado
na caça ardentemente cevado,
meus caminhos estão cercados
de armadilhas ardilmentes enredados
meus passos ébrios são aprisionados.
Pelo caminho do suplício
levam-me a desfilar
como arauto exemplar,
àqueles que ousem desafiar,
verterão sangue de sacrifício.
Pesado fardo a suportar
sobre mim impõem
com o fim de me abalar
para que de mim zoem
diante de meu rastejar.
Após a ignomínia de a cruz carregar
pendem meu corpo sobre a madeira
cravando-me cravos, mãos a sangrar;
para todos a visão cruel e derradeira
ao desatino da liberdade procurar.
Esvaído nas forças vitais
deliro na fraqueza real,
fendem minha carne leal
transpassada pelos metais
sangue jorra na força do ideal.
Eis que da terra entranhado
meu sangue clama em brados
conclama à luta os deserdados
na chama imortal da liberdade,
supremo anseio da humanidade.