GENTE SIMPLES DO BRASIL



Eu dispenso o teu tão escravizante ouro de tolo,
eu prefiro a utilidade do broto doce do rebolo...
Eu dispenso a tua linda bmw preta e blindada,
eu prefiro a minha charrete azul e ensolarada...

Eu dispenso todo o teu vil tesouro ouro e prata,
eu prefiro a orquídea que eu pego ali na mata...
Eu dispenso o teu discurso tolo que me cansa,
eu prefiro a verdade da ternura de uma criança...

Eu dispenso todas as tuas ricas jóias puras,
eu prefiro as flamboyants caídas pelas ruas...
Eu dispenso as tuas flores mortas e artificiais,
eu prefiro as maravilhas vivas dos meus quintais...

Eu dispenso o luxo dos teus condomínios fechados,
eu prefiro a periferia dos meus manos abandonados...
Eu dispenso a tua neurótica academia de ginástica,
eu prefiro o palhaço engraçado na cama elástica...

Eu dispenso a tua enorme piscina até aquecida,
eu prefiro a energia das águas puras do mar...
Eu dispenso o teu banquete fino com caviar,
eu prefiro só uma doce manga rosa do pomar...

Eu dispenso o teu chique e frio ar condicionado,
eu prefiro o vento natural do meu telhado furado...
Eu dispenso a tua voz desgovernada e prepotente,
eu prefiro só ouvir ao menos um bem-te-vi contente...

Eu dispenso o teu cartão de crédito escravizante,
eu prefiro que a minha palavra seja cintilante...
Eu dispenso o teu corpo de plástico e silicone,
eu prefiro a mulher que pensa e não é clone...

Eu dispenso o teu fútil cruzeiro internacional,
eu prefiro a caminhada na mata verde nacional...
Eu dispenso o teu tão importante círculo social,
eu prefiro a companhia voadora de um pardal...

Eu dispenso a tua novela das oito da televisão,
eu prefiro o espetáculo divino de um beija-flor...
Eu dispenso toda a tua definição de vencedor,
eu prefiro quem faz história usando a sua mão...

Eu dispenso a tua fútil vã filosofia hedonista,
eu prefiro a polidez de uma só exclusivista...
Eu dispenso a tua vida fútil de “patricinha”,
eu prefiro ser uma águia e só voar na minha...

Eu dispenso a tua alegria eufórica e barulhenta,
eu prefiro o silêncio das borboletas do manacá...
Eu dispenso a tua libido desgovernada e sedenta,
eu prefiro o prazer de rimar a poesia com a faca...

Eu dispenso a tua igreja estelionatária e capitalista,
eu prefiro o sermão da montanha puro e verdadeiro...
Eu dispenso o teu cheque especial agiota e vigarista,
eu prefiro andar à pé observando as flores do canteiro...

Eu dispenso a tua imprensa sensacionalista e egoísta,
eu prefiro citar as que morrem de fome e ninguém diz...
Eu dispenso a tua omissão no avanço da prostituição,
eu prefiro me indignar ao ver uma pobre menina meretriz...

Eu dispenso a tua vida materialista, medíocre e infeliz,
eu prefiro a alegria do girassol sábio e energizado...
Eu dispenso esse teu diploma que foi comprado,
eu prefiro o aprendizado com a formiga que é feliz...

Eu dispenso o teu vício na sociedade de consumo,
eu prefiro a satisfação da observação de um vagalume...
Eu dispenso o teu deus mercado e o teu cego rumo,
eu prefiro louvar a divina e sábia natureza e o seu lume...

Eu dispenso a tua tão disfarçada e simulada lucidez,
eu prefiro a minha aparente e descarada maluquez...
Eu dispenso a tua ilusão de um prepotente burguês,
eu prefiro a minha consciência de um eterno aprendiz...

Eu dispenso o teu orgulho de submisso globalizado,
eu prefiro a humildade de quem luta e soa no arado...
Eu dispenso o teu discurso de intelectual tão pueril,
eu prefiro a sabedoria da gente simples do Brasil...





http://youtu.be/OI-sS6eJecs

Zé Ramalho - Meu País




http://youtu.be/t8xyK_nhXwY

Flávio José - Filho do Dono







 
Wilson Madrid
Enviado por Wilson Madrid em 22/05/2008
Reeditado em 15/09/2014
Código do texto: T1000022
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