Sonho da Vida
Sonho, porque a vigília é um engano
E a vida é nada mais que um breve instante
Onde, incauto, me pego soberano
Sem notar que sou uma névoa cambaleante.
Sonho, pois sei que o real é um disfarce,
Uma névoa vestida de ferro e concreto,
E cada passo em chão que marca a face
Revela um abismo fundo e circunspecto.
Ah, quem sou eu senão um vulto errante,
Que sonha que é, sem nunca ser de fato?
Se a vida é breve, o sonho é tão constante
Que a vida é um sonho apenas mal narrado.
E assim existo — sonho e me deslumbro,
E ao despertar, quem sabe se não durmo?