UMA
UMA
Todos os dias
Só tenho uma chance
Pra sair no horário
E não chegar atrasado
Assim como só nos é dada
Uma vida
É o que se necessita
Para cumprir
Com o combinado
Fazer o trabalho
E voltar para casa
Descansado
Com mais um dia
De salário
Fruto do trabalho
Carrego ainda
Uma vontade
Essa de escrever
Que acontece
Em todo amanhecer
Se deixasse
Por mim
Do amanhecer
Ao anoitecer
ARARIBÓIA
IARA'S
JOÃO
MARIA'S
Até aquela que não foi nomeada
Os que constroem
O que conta histórias
O que vende histórias
O que revela parte da nossa própria História
O que trabalha no cais
A que trabalha também no cais
As mãos que tudo fazem
Nesse mesmo cais
Tantas são as imagens
Tantas são as artes
Ela que ficou enclausurada
De forma voluntária
Ele que cortou a própria orelha
O conterrâneo
Que não consigo nem resolver
Se era melhor com o pincel
Ou com a pena
Eu figurante em dois cenários por ele ora pintado
Ora com painel achado,
Lá naquele teatro
Depois de tantos andaimes Subir e descer
Quem diria que um dia
Seria também meu dia
De parar
E escrever
E fazer essa arte
Em qualquer canto
Em toda e qualquer cidade
Sem ser cantando
Somente admirando
Escrivinhando
Ainda com inveja de Caminha
Que aqui já não caminha
Mas que bem poderia ter ficado
Por esses lados
E ter feito ainda mais alusões
Aos papagaios
E todos os outros
Tantos animais
Cores e tudo o mais
Que teria contemplado
Ficado ainda mais admirado
Extasiado
Sem nem depois querer pensar Em ir mais
Para nenhum outro lado
Teria por aqui ficado
Casado
Envelhecido
E depois partido
Feliz
E satisfeito
E que belo legado mais ainda Teria nos deixado
Mas só essa sua carta
Ainda me deixa
Sem fala
Só de viajar
E em pensamento
Estar lá
Na minha viagem pessoal
Cabral teria tudo largado
O motim estaria então formado
E todos ali mesmo fundariam Com os índios um outro Estado
Sei que nessa viajo
Mas sei que posso tudo
No campo do imaginário
Aonde não existe nem limite
Nem compasso
Tudo faço
E desfaço
Só no itinerário
De casa
Até o meu local
De trabalho
Renato Lannes Chagas
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