Águas e Céus de Todo Dia
No correr das nuvens, espanta o céu
Como se o tempo desaprumado
Perdesse o tino de ser eterno.
Águas desmedidas desabam sem pena
Invadindo o chão da gente, roendo
As bordas e eiras da vida.
De longe, ouve-se o rio bufando
Não mais calmo – é bruto!
As árvores, antes testemunhas quietas
São arrastadas em gritos rabiscando a terra.
Chuva não pinga: despeja, desaba!
Troveja na alma o medo de tudo se perder.
E a gente olha o mundo mudando
De dentro das inundações do tempo.
Pensando: foi o homem, ou foi Deus?
O céu não responde nem as estrelas
Dão as caras para contar.
Há o rio, o barro e a lama. Há sofrimento
E há a espera: que o sol, um dia, devolva
A cor do chão e o sorriso na alma das crianças.