Dualidade

Dualidade I

Saí pela noite a esmo

E me aconteceu assim:

Encontrei comigo mesmo,

Estava fora de mim!

Dualidade II

Eu briguei comigo mesmo

Como brigam dois rapazes

E fui por aí a esmo.

Atendendo a meu pedido,

Fiz-me de desentendido

E voltei arrependido,

Querendo fazer as pazes.

Não deu: eu tinha saído.

Dualidade III

O poeta é o grande ator

Do indecifrável mistério:

Mesmo só e sem amor

Ainda comete adultério.

E porque tem dupla alma,

Uma inquieta e outra calma,

Se ele ousa ser honesto

Elas cometem incesto.