décimas para lembrar tarde da noite

se aquieta coração

se arma de indiferença

deixa pra lá

dá sossego pra alma, deixa ela descansar

é tarde da noite

a cabeça não tem relógio

o sono não é pontual

sempre atrasado, as vezes nem vem

não justifica

não manda aviso nem mensagem

sinal de fumaça, só lá fora

bagunça tudo por dentro

noites se vão

se aquieta coração

pensa, pensa e pensa

no fim das contas, de nada adianta

sofrer duas, três, três mil

calado, falado, gritado, brigado

desconhecido é o resultado

pode ser que sim, pode ser que não

pode acontecer de tudo, inclusive nada

“planejo, Deus ri, mas admira minha estratégia”

e quando a gente vê, a alma cansada

se arma de indiferença

a indiferença é a morte em vida

alheio às dores do mundo

sucumbe às dores próprias

como um violino agudo

tocando uma sinfonia

enquanto se planeja uma cenográfica vingança

contra quem?

alguém realmente se importa?

mas eu preciso dar voz ao que eu sinto!

deixa pra lá

passam-se dias, meses, anos

panetones na prateleira

é folia, é chocolate

férias, aniversário, seca, chuva, frio

panetones na prateleira

e aqui dentro estações se misturam

neve com raiva, calor com lapsos de bons sentimentos

o tempo não para, o mundo não espera

uma hora, se tudo de certo, a ficha cai, encontramos nosso lugar

dá sossego pra alma, deixa ela descansar