O pão dos vencidos

O pão dos vencidos.

Uma criança catarrenta,

Magra, cismada e morta,

Circula pelas sombras;

No vale dos esquecidos.

Nas mãos trêmulas de medo,

Um pedaço de pão vencido;

Mastigado aos escarros;

O pão vencedor já escorre

Por quilômetros no bueiro;

Enquanto esse, não;

Será comido à conta gotas

Sob a música viva do pranto.

Terreiros e portões se acotovelam

Por espaços suspeitos;

Onde casebres desdentadas

Tentam sorrir suas janelas

E portas de tramelas tramontina,

Que mais parecem focinho

De porcos em pocilga.

Ouvem-se a voz do dono,

Mas nunca o dono da voz.

As mulheres, ou são grávidas

Ou doentes de barriga d'água,

Porque, águas e vermes

Dançam a mesma música.

O mundo e o fundo prometidos

São ainda mais fundos,

Parcos, escuros e imundos;

De novo, a voz do dono

Grita em descalabro:

Votem! Votem! Votem! Votem!

Mas voltem em si mesmas.

A criança morta quase morre

De um susto assustador,

Pois, de medo, já morreu

E alguns dizem que foi pra sempre...

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 16/09/2024
Reeditado em 16/09/2024
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