O pão dos vencidos
O pão dos vencidos.
Uma criança catarrenta,
Magra, cismada e morta,
Circula pelas sombras;
No vale dos esquecidos.
Nas mãos trêmulas de medo,
Um pedaço de pão vencido;
Mastigado aos escarros;
O pão vencedor já escorre
Por quilômetros no bueiro;
Enquanto esse, não;
Será comido à conta gotas
Sob a música viva do pranto.
Terreiros e portões se acotovelam
Por espaços suspeitos;
Onde casebres desdentadas
Tentam sorrir suas janelas
E portas de tramelas tramontina,
Que mais parecem focinho
De porcos em pocilga.
Ouvem-se a voz do dono,
Mas nunca o dono da voz.
As mulheres, ou são grávidas
Ou doentes de barriga d'água,
Porque, águas e vermes
Dançam a mesma música.
O mundo e o fundo prometidos
São ainda mais fundos,
Parcos, escuros e imundos;
De novo, a voz do dono
Grita em descalabro:
Votem! Votem! Votem! Votem!
Mas voltem em si mesmas.
A criança morta quase morre
De um susto assustador,
Pois, de medo, já morreu
E alguns dizem que foi pra sempre...