A Sala

Confinado por vontade,

Algemo as nádegas sobre a espuma,

E em ergonomia improvisada,

Digito, descrevo, documento.

Como em um drive-thru,

As demandas ecoam aos ouvidos,

E os pedidos infinitam-se para o amanhã,

Burocrática, barafunda, bíblica.

Ao redor tão próximo,

Meus clones diferentes imitam-me,

Transmutando o pretérito em futuro,

Papel, pixel, programa.

A socialização obnubilada,

Ameniza o ruído das teclas,

Afastando a solidão interna,

Conversa, convivência, cooperação.

Com os olhos feridos pela luz,

Voltam cansados para o ninho,

Mas a sombra teimosa,

Enraíza, enclausura, estagna.

O alvorecer alternativo se iguala

E o corpo se automatiza

E a rotina de cinco, unifica-se,

Roda, retorna, repete.

O corpo reencontra a sombra,

E um suspiro de coragem os une

E, mais um dia:

Telas, transcrições, trabalho.