Décimas Cansadas

O cansaço assola.

Assim como todo o resto.

Mais a alma resiste,

Mais a alma se isola.

Quando o mundo te olha,

Te cobra, te exige,

Te espera, nem sempre.

Confunde, arrasta, machuca,

Anseia, se frustra,

De novo e de novo.

Te oferta, te recompensa,

Te vence, se perde, se acha.

Quando menos se espera

O cansaço assola.

Na ânsia de descansar

A alma, o corpo,

A mente, o coração,

Fugimos, corremos.

Entorpecemos, vivemos

Morremos.

Nascemos de novo,

No outro dia, numa outra hora.

A alma se enche, se esvazia,

Assim como todo o resto.

Apostamos tudo que temos,

Ganhamos, perdemos,

Sorrimos, choramos

As vezes de alegria,

As vezes de ódio.

Às vezes, nem sempre.

Um dia, uma hora, um mês.

Chega-se no meio, faltam outros seis.

Com rumo, sem rumo, seguimos tentando.

Mais a alma resiste.

Por sorte, às margens, cercados de gentilezas, boas risadas.

Beijos, abraços, disritmias.

Afeto, amigos, família.

Combustível.

No meio de tudo, ficamos, indo e voltando.

Uma hora nos aquietamos, ou não.

A única certeza que fica

Além de que uma hora partimos

É a que se não nos entregarmos às margens,

Mais a alma se isola.