A Dança Macabra

Eu tenho uma estória para contar

Que é de arrepiar todos os ossos

E é até difícil para alguém imaginar

Aquilo que vi com os próprios olhos

Tomei só um drink antes na rua

E fui caminhar pelos capins grossos

Enquanto eu apreciava a clara lua

Olhando as belas estrelas à cima

Sem notar a presença que atua

E das espersas árvores se aproxima

Atento à cada movimento tomado

Escondido onde a luz não ilumina

Até que me senti sendo observado

E para trás de mim eu decidi olhar

Mas sem nada ter lá encontrado

Mais rápido eu comecei à andar

Com medo de me virar de novo

Pois eu sei que tem alguém lá

Em um parque ou caminho duvidoso

Quando as luzes começam à mudar

Eu me sinto um pouco ansioso

Pensando no que posso encontrar

E eu me sinto um pouco estranho

Quando passos eu penso escutar

Mas isso acontece até no banho

É coisa que a imaginação produz

E de noite a parede eu arranho

Desesperado tentando ligar a luz

Sem olhar para o canto do quarto

Pois sinto algo lá que medo induz

Assim o terror atual eu descarto

Pois isso nunca é nada de verdade

E com celular na mão eu parto

Tornando escuridão em claridade

Com a tocha que a mata ilumina

E todo passado temor dissuade

No cenário comum nada me fascina

Vendo só a pura caatinga bruta

E volto à minha caminhada de rotina

Olhando a lua que me despreocupa

Antes de me sentir cair de joelhos

Do vulto que sai da mata e me derruba

Sinto ser arrastado sem aparelhos

Por uma forte mão dura e inculta

E sinto escorrer em tons vermelhos

O sangue de minha testa e nuca

E por uma jurema espinhosa

Que minha pele rasga e machuca

Mas das coisa a mais dolorosa

Vai chegando após a confusão

Quando esta realidade odiosa

Se torna a horrível realização

Gradualmente se intrometendo

A terrível certeza da situação

Pois vou aos poucos percebendo

Quando os sentidos voltam assim

Que isto está mesmo acontecendo

E o que o futuro reserva para mim

Sou convidado à juntar-me à eles

E sem escolha só posso dizer sim

Ao seguir e ser guiado por esses

À um profano círculo de fogo

Eu sou levado ao meio deles

E comigo começa um jogo

Me empurrando e gritando

De tambores som pavoroso

O tempo vai para mim parando

Pois sou pelo medo paralizado

E vou sem nada estar pensando

Sentido desejo de ser queimado

E as labaredas não me machucam

Após ter aqui por braza andado

Junto comigo no fogo comutam

E meu pescoço fica arrepiado

Pois um trance todos escutam

E sinto meu espírito ser levantado

Que alguém tivesse, como eu queria,

Esta inteira cena minha presenciado

Olhando para baixo meu corpo eu via

Com nossos espíritos flutuando no ar

Dançando, pulando e gritando, eu assistia,

Meu corpo sozinho o idolo deles louvar

Cantando, rindo e de volta me olhando

Com vontade própria sem a minha escutar

Com olhos opacos, não piscando,

Como se estivessem todos mortos

Figuras sem vida, mas conversando,

Entre loucos espíritos me comporto

O grã climax vem se aproximando

Enquanto visões infernais suporto

O tempo de nos unir vem chegando

E ao meu corpo abaixo eu desço

E suas faces vão assim mudando

Pois o ritmo do ritual desobedeço

Eu sem pensar propósito ou plano

Cercado pelos mortos permaneço

Mas por sorte ocorre um engano

E para a briga foge sua atenção

Já eu corro quase sobrehumano

Aproveitando da outra confusão

Sem nem ousar olhar para trás

Saio cego na mata sem direção

E não sei como eu fui capaz

De dispistar a prole infernal

Mas em uma roça vi um rapaz

Que apontou a saída do matagal

Mas até hoje em minha cama

Às vezes sonho com aquele ritual

Algo dentro em mim ainda me chama

Em toda lua cheia que eu me levante

Algo terrível em mim noite e dia clama

Para que seus profanos cânticos eu cante

Com isso eu continuo sempre à lutar

Até que mais uma vez com os mortos eu dance

Bedengus
Enviado por Bedengus em 23/07/2024
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