Marginais
Você não me olha nos olhos
Não existe bom dia
Faz frio todo dia
Nas vassouras da vida
Nos lixões desse país
Não somos estatísticas
Apenas caso de polícia
Uma poluição social
O cartão postal é nosso banheiro
Quando todos dormem
Quando vamos morrer?
Estamos vivos
Nunca existimos
No labirinto das ruas
Expomos a face nua do grande monstro
Civilização
Não tem perdão
Tampouco, explicação
A fome me faz dormir
O inferno não são os outros
O inferno é aqui
O dia me faz chorar
Acordo com os passos apressados
Os ponteiros não param
Infelizmente o dia aconteceu mais uma vez
Que pena!
Procuro um canto de privacidade
Deve ficar num país inalcançável
Estamos em todo canto
Não temos nenhum para ficar
Só a cidade toda para andar
Nas margens de tudo
Sem nada para prender
Diógenes sem filosofia
Só queria fechar os olhos de uma vez
Nunca mais olhar essas praças cheia de pessoas
Não posso ir embora
Não posso ficar aqui
Nas margens desse país
Ninguém fica com a gente
É natural ser indiferente
Indigente
Cercas urbanas
Velhas senzalas atemporais
Somos sempre acorrentados
Ninguém aguenta mais