A fila e a fala
Na fila cabe o mundo
Na fala tudo é fatal
Feitos um pro outro
Todos a esperar:
O empregado
O artista
O vagabundo
A dona de casa
A protistuta
A trapezista
O mecânico
O motorista
Numa fila fala-se a fio
Todos os assuntos enfileirados
A inflação
O futebol
Os esfarrapados
O filé
A foda
O fumo
O feirante
O funcionário
O autofalante que passa anunciando um novo produto
O mel
O "feli"
O fiado
E a moça feliz com o novo namorado
A amante no fim da fila
Ouvindo toda desconfiada
Na fila a fala é mansa
Do fuxico ninguém escapa
O enfado
O fedor
A farofa
A feiura
O boia-fria
A fé
O mé
O matuto
O grafino
De tudo de fala
Em nada se fita
O tempo não passa
Passa um cachorro do mercado com osso na boca
Todos sentem inveja dessa liberdade
Já se passaram anos?
Ficamos velhos sem saber
Na fila há sempre o furão
A carteirada dos donos do país
O forasteiro não entende a forma informal de sermos
O feijão inflacionado
O foro privilegiado
A fila do hospital
A folia do Carnaval
A felicidade em momentos fugazes
Tudo é frágil
Sempre somos feridos
Fatiados na eleição
Farinha do mesmo saco
Ferrados
Fudidos
Famigerados
Foragidos
A fila vai seguindo seu caminho
Parada, como o retrato do país
A freira
O futuro parece distante
O fruto dessa semente de espera
Falta gente pra entender
Sobram falácias e promessas
E assim ficamos no meio do caminho
Sem saber qual o sentido de tanta festa