A fila e a fala

Na fila cabe o mundo

Na fala tudo é fatal

Feitos um pro outro

Todos a esperar:

O empregado

O artista

O vagabundo

A dona de casa

A protistuta

A trapezista

O mecânico

O motorista

Numa fila fala-se a fio

Todos os assuntos enfileirados

A inflação

O futebol

Os esfarrapados

O filé

A foda

O fumo

O feirante

O funcionário

O autofalante que passa anunciando um novo produto

O mel

O "feli"

O fiado

E a moça feliz com o novo namorado

A amante no fim da fila

Ouvindo toda desconfiada

Na fila a fala é mansa

Do fuxico ninguém escapa

O enfado

O fedor

A farofa

A feiura

O boia-fria

A fé

O mé

O matuto

O grafino

De tudo de fala

Em nada se fita

O tempo não passa

Passa um cachorro do mercado com osso na boca

Todos sentem inveja dessa liberdade

Já se passaram anos?

Ficamos velhos sem saber

Na fila há sempre o furão

A carteirada dos donos do país

O forasteiro não entende a forma informal de sermos

O feijão inflacionado

O foro privilegiado

A fila do hospital

A folia do Carnaval

A felicidade em momentos fugazes

Tudo é frágil

Sempre somos feridos

Fatiados na eleição

Farinha do mesmo saco

Ferrados

Fudidos

Famigerados

Foragidos

A fila vai seguindo seu caminho

Parada, como o retrato do país

A freira

O futuro parece distante

O fruto dessa semente de espera

Falta gente pra entender

Sobram falácias e promessas

E assim ficamos no meio do caminho

Sem saber qual o sentido de tanta festa

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 05/07/2024
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