Urgências
Ontem bati ponto nas Urgências,
Comida mal caída, de rua, deu nisso,
Intoxicação alimentar não viral,
Um litro de soro, dramin, medicação,
Um bom cochilo e pós meia noite,
Já estava em casa, na minha cama,
Mas antes, enquanto lá estava,
Nas Urgências, fiquei a olhar o recinto,
Jovens e velhos, todo irmanados na aflição
Sim, pois qualquer motivo gera angústia
Para quem precisa parar em uma Clínica,
Fazer pouso em algum Hospital,
Se chega andando, melhor, menor risco,
Se chega de ambulância, coitado, perigo,
Alguns acompanhados, outros sozinhos,
Da triagem preliminar ao atendimento,
As Urgências rotulam cada paciente,
Pulseiras vermelha, laranja, amarela
Verde, Azul e Branca definem o grau,
Se é caso de vida ou morte ou só de vida,
Se quem entra sairá logo, medicado,
Ou ficará para internação e vai saber,
Se de lá não mais sairá senão ao cruzeiro,
Ao lar dos ossos e das almas partidas,
As Urgências me lembraram mamãe,
Ela não saiu de lá, foi para o cruzeiro,
Foram 15 dias longos e tristes,
Já eu, saí, ainda com temor de comer,
Em uma dieta de jejum involuntária,
Mas sai andando, bem como cheguei,
Sai enquanto outros lá ficaram,
Ossos quebrados, virososes, gripe,
Dengue, diabetes, hemodiálise,
Tantas coisas que assusta lembrar,
Somos todos frágeis, com ou sem dinheiro,
Estamos todos nas mãos do destino,
Qual será a nossa hora? Vai saber,
Quando será o último suspiro? Vai saber,
Quem estará ao nosso lado? Vai saber,
Nascemos sós e morremos sós,
Estamos na porta das Urgências,
Às vezes adentrando-a, às vezes só
Batendo ponto, dia sim, muitos dias não,
Esperando, e até lá vivendo o possível....