Retirante Que Era (Sou)
O caminhar do Retirante era pesado,
Feito com pequenos passos sobrecarregados,
Que não levavam a lugar algum.
Seu semblante demonstrava o cansaço.
Em um descompasso rítmico entre os pés e o
Destino que o caminho não o levava,
Decidiu abrir mão de velhos fardos do passado,
E enfim percebeu: o que doía na verdade,
Era a escolha de mantê-los ali.
Esticou as pernas, a coluna e,
Relaxando os ombros por um instante,
Ficou surpreso com o ranger de
Ossos e juntas estalando,
Quase pequenos choros de alívio
Ao se acomodarem em uma nova disposição,
Realocando-se sem tanta pressão.
O Retirante na beira da estrada,
Sentou por um instante,
Uma pequena pausa de uma viagem,
De ainda poucos anos,
Que logo, logo, iria retomar.
Percebi… digo… percebeu um
Novo horizonte que se apresentava diante dele
Um prenúncio de um novo dia que estava por vir.
Com um olhar ainda cansado,
Porém ainda atento,
Examinou o trajeto feito até ali.
Os vários caminhos que foram
Se convergindo até aquele momento.
Ao olhar para o lado, depositados no chão,
Teve um vislumbre dos fados que carregou consigo
Durante anos… pensei… digo pensou:
“Se estou apenas de passagem, pra quê
carregar tanta bagagem?”
Ainda buscando sua resposta,
Olhou para o caminho que se espalhava
Logo a frente, como galhos
De uma árvore prestes a crescer,
Tocados pelo calor de pequenos feixes de luz
Que indicavam a aurora de um novo amanhecer.
Retirante que era, sentiu um anseio
Emergir dentro de sua alma!
Senti… digo, sentiu que ganhou mais tempo
Ao se permitir olhar para dentro.
Então levantou, sacudiu a poeira e partiu dali.
Pois entendeu que seu lugar,
Apesar de estar próximo, ainda não era ali.
Deixando alguns fardos para trás,
Aqueles que não serviam mais
Carregou consigo apenas aqueles necessários.
Mobilizado por aquele novo anseio,
O caminhar não era mais pesado.
Em seu semblante um olhar cheio de esperança,
Encantado como de uma criança,
Indo ao encontro do lugar que irá chamar de lar.
Em seu destino, um dia, enfim chegar.