CANTOS DO TANGARÁ

Figuras inusitadas se prostram

Como só um mais um fosse como dois.

Os membros já se foram.

Então, meandros carregam meias verdades para o além tudo.

Depois as faces nos cobrem as facetas que carregamos

E não nos diz nada quanto ao belo quadro

Que despenca da parede e se espatifa no vazio da imensidão

Que solta sua voz rouca e pacata como um velho sábio de antigamente.

Em meio a tudo quanto quero,

Vou-me estraçalhando papéis que só nos dizem que precisamos seguir leis,

(essas que foram feitas para serem burladas por eles e menos por nós),

Que nada tem a ver com nossas maneiras de ver o mundo.

II

Não nos envolvemos com truques

Ou sei lá onde está

Tudo quanto aproxima

Pode também nos afastar

São filosofias malucas

Permeadas no nosso amor

Que nos deixam lelés-da-cuca

Compenetrados numa grande dor

III

A libertação nos acolhe

Escondemos as metáforas

E a paixão de ser poeta

Nos cobre com um belo manto

Então emitimos novas palavras

E a descoberta é leve e fraca

Nos ombros daquela criança,

Há um peso de uma cruz

IV

As palavras percorrem manhãs

E nossa intimidade é fecunda

As vogais estão tão soltas

Numa prisão profunda

E nós assinamos papéis

Impostos pela sociedade

-Estou farto de coronéis-

Que não nos dá felicidade

V

-Sou ainda tão pequeno

Como grãos de areia-

Ao ver seu rosto moreno

Meu coração se incendeia

E não mais existo

Sem o seu humilde calor

Por isso então persisto

Buscando o nosso amor.

VI

As melhores palavras

Dizem que só o esquecimento

É como nada consta nos arquivos

Que foram rasgados tempos depois.

Agora me voltei em flor

E desenhei a tua lembrança

Com meu punho e o papel

De te esperar mais do que nunca

Altamente sugestivo

É o amor que há em nós dois

Onde a verdade fulgura no ar

E nossos corpos bailam

Como borboletas pousando numa

Pétala de flor.

VII

A tarde se deitava nos meus olhos

E ainda havia uma esperança

De que você aparecia

Mas a noite chegou

E meu sonho acabou

VIII

Meu pensamento se dissolve em mel

-Pouca luz comparece na abertura

Da vontade de estarmos juntos

Mais uma vez- e o sofrimento

Deslanchasse em céu

- A noite é clara como um dia de céu limpo

- Enquanto o caminho era

Estreito e salivava as entranhas

Do doce desejo que nós

Guardávamos em símbolos

Aflorados em nossos corpos

- Não escondemos a suave alegria e a

Febre em vigor em nossos corações -

Engraçado é que há uma estrela

No céu de sua boca pedindo

Para que a toque com a língua!

Belo Horizonte - MG, 1995.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 10/06/2024
Código do texto: T8083141
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