Distopia
Como ponteiro de relógio inerte
Pessoas apressadas passam
Perpetuam na retina imagens
O que olham? Quimeras veladas?
Mãos sôfregas, calejadas
Feridas, reviram lixões
Entre abutres e ratazanas
Buscam migalhas, ilusões
Silenciosas, em suas angústias imersas
Como bússola sem norte, se perdem entre seus ais
Num olhar indigesto nao enxergam
Mãos oprimidas e violadas por demais
Mãos solitárias, abandonadas e esquecidas
Imersas em profunda anomia
Se erguem mendigando compaixão
Não foram notadas, perdidas na multidão
Na incerteza diária do porvir
Seguem sem vida, sem guia
Ignoram mãos que se aninham
Em noite fria, entre papéis adormecidas
Colchões de um só dia
Diante desta distopia
Cegas à desolação, terminam o caminhar
Em sua escuridão dormem, sem utopia
Conseguirão sonhar?