ODOR TERRÍVEL

Ainda em tempo

Quero registrar

Que o vento

Começa a balançar

Minha estrutura

E minha compostura

Começa a bailar.

As folhas caem bem longe daqui

Ao infinito do céu

Não se vê mais nada,

Apenas um horizonte cinzento

E uma angústia terrível em meu peito

Por tamanha falta de educação

Desse povo que coloca fogo em tudo

E ainda acha isso tão normal.

Minha estrutura está balançando.

Vejo a sujeira na calçada.

A fossa parece piada,

Merda saltitando pelos gritos

Dando um odor terrível

A querer desfilar pelas ruas fétidas.

Ah!

Não posso reclamar!

Sou forasteiro,

Sou de outro lugar,

É melhor deixar

Todo mundo na merda se afogar

Que avisá-los que existem outras maneiras

De se relacionar

Amando verdadeiramente o lugar.

Quem ama cuida,

Já diz o ditado

Mas aqui se ama da boca para fora

E quem é de fora

E tem a coragem de falar a verdade

É convidado a se retirar

Ou tem que parar de reclamar.

Só que não vou embora, agora!

Agora vou continuar a reclamar

Vou mostrar como se cuida do lugar

Só muito depois que partirei em qualquer direção

A esse povo deixarei uma grande lição!

Aqui estou fazendo minha parte na história

Deixarei rastros para a eternidade

Por mais que eu possa reclamar de tudo,

No fundo, no fundo,

Amo isso aqui de verdade.

Se eu não a amasse

Eu a exploraria como fizeram muitos

Ainda jogaria muito lixo nela,

Além de enchê-la de fogo

E sujeira por todos os lados!

É claro,

Só ouviria intestino solto em todos os ritmos

E jurava que ouvindo uma grande música,

Mas nada disso faço,

Apenas disfarço e sigo descalço,

Pisando em cacos de vidros,

E sorrindo por entre os dentes,

Tamanha alegria estampada no caminhar.

Estreito - MA, 2009.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 29/04/2024
Código do texto: T8052611
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