O negrinho vendia amendoins
O negrinho vendia amendoins
No asfalto
Morava no morro
Sua mãe de tuberculose
Não podia trabalhar
Tinha que vender
Nas imediações do Maracanã
Na Vila Isabel, em São Cristóvão
E na Praça da Bandeira.
Seu amigo vendedor de amendoins
Só tinha a vasilha de vendas
Para vender e fingir brincava
Cativou uma lagartixa
Cuidava dela como de um
Pequeno felino ou canino
Um dia a lagartixa com nome
Foi esmagada por pés cruéis.
Pior destino teve o menino
De mãe tuberculosa
Foi atropelado por um veículo
Ao se desviar do bonde
Depois de perseguição de
Outros meninos vendedores
Após uma de suas travessuras.
Sua mãe com bacilo de Koch
Olhava da janela de cima do
Morro esperando sua volta
Perguntava a todos os outros
Moleques se vira seu filho
Seu filho não voltava
No fim estava coberto de jornais
E uma alma caridosa lhe acendeu
Uma vela.
(Homenagem ao cineasta Nelson Pereira dos Santos pelo filme Rio 40 graus)
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 21 de janeiro de 2024.