Me demoro, acordei desfrutando de uma réplica sonora atada à madeira.

Me espreguicei entre lençóis e travesseiros, calma dentro de mim, ouvindo bem de perto o filhote com suas asas semiabertas.

Ele desdenha da altura, pequeno dançarino que reverencia o amanhecer. Perito em poesia, o corpo oblíquo que se espalha em cantorias. O mundo ainda dorme enquanto ele me acalma.

O pequeno habitante de muitos jardins, aprendiz do simples, respira o ar que não respiro - está em seu lugar que é a liberdade. Eu estou no meu lugar, enraizada mas em paz comigo.

Talvez ele esteja falando sobre as suas batalhas vencidas, as minhas estão todas perdidas, mas aceito, não retruco, um brinde àquelas que falharam em mim, as minhas tentativas de compreender este mundo caduco. Não adoeço mais em acordar alguns dias sem qualquer propósito. Nesta hora respiro fundo e insisto contra todas que já fui. Me aproprio do que sou hoje. É o bastante. Não aborreço mais o meu espírito. Sou parte comigo, às vezes inteira, num lado equilíbrio e no outro tropeço, e há também uma porção de mim neste pássaro.