O tempo levou embora aquela menina,
e algumas coisas que não externou nem para si.
Enfraqueceu memórias,
desencorajou dragões,
soprou castelos,
alimentou as traças desbotadoras de letras.
Oxidou lâminas,
enterrou os ossos,
naufragou os brinquedos.
Adulta,
agora,
com meio sorriso e
séculos atrasados de gargalhadas.
Agora,
um quase soluço,
sem viver ainda o suficiente.
Aprendiz do sossego,
da imortalidade que mora,
para sempre ou talvez,
longe do alfabeto das calçadas que amolam as dores fáceis.
Múltipla,
diminuída,
descalça
à beira do veredito para o nunca
e anterior à vida.
Confusa,
pairando deselegante,
revelação frente ao espelho,
e se de fato falhar,
tudo bem,
deixou de lado o poder de presumir.
Libertou-se do real,
do lençol - fantasma estrangeiro no varal.
Passeou no afastameto da própria língua, e,
reinventou-se, passarinho.
E sentiu uma segunda vida bem mais fácil de esquecer.