UM ROSTO
UM ROSTO CANSADO SE DESENHA
[Em 2020]
A vida desenha
um outro rosto, em mim,
agora duro, desiludido,
casmurro.
...
Aquele homem que eu era
perdeu-se
nas estradas da insanidade,
pedregosas, estéreis,
sob o ataque de homens brutos
- salteadores -,
sem o abrigo amigo
do verde, agora queimado,
devastado.
...
O vazio deste tempo
não mata a esperança
- a última que morre.
...
A teimosia de ainda sonhar
me fortalece
e me torna arredio,
escudo para um futuro incerto,
imposto a nossas vidas
sem qualquer questionamento.
...
O povo, em silêncio,
anestesiado,
se curva ante o falso profeta
que multiplica o ódio
- com palavras e gestos,
que não combinam
com a mais fina
e sensível poesia.
NELSON MARZULLO TANGERINI.