Alarme Programado

Da janela de casa vejo e ouço o mundo, vivo, lento

Cada ruído, cada som, cada barulho, gemidos e sigilos

O vento nas frestas, assobios, o bater de portas

Os pássaros e seus cantos ao amanhecer, ao alvorecer

Os carros ligeiros aceleram e freiam, apressados, perdidos

Os passos no corredor, no vão do prédio, vazios, banais

O eco das falas noturnas rebatidos nos edifícios, sinais

O rádio ligado tocando as mesmas músicas, playlist de sucessos

Os latidos multiplicados, os portões fechados e abertos, livre acesso

A sirene anunciar o horário do almoço na Paulista, usual

A agitação no horário de pico, término das obrigações, proletariado

O grito das crianças, intervalo escolar, euforia vívida e casual

O som da chuva nos telhados, trovões, transformadores queimados

As risadas soltas, roda de amigos, momentos felizes, singulares

A queda de objetos, estouros, o tilintar de copos e pratos nos bares

Conversas inesperadas, vizinhos e pedestres mesclados, sinônimos

Briga de casais desconhecidos, ainda sim íntimos e anônimos

O silêncio repentino, estranho, o que houve? Fenômeno

Sentado ao lado da janela sou o mundo, despretensioso, atento

Sou os olhos e os ouvidos despertos para o mínimo, movimento

Daqui sentado ouço a cadeira arrastar no andar de cima, imóvel

E percebo que o alarme programado soou, momento de desativá-lo

Apenas um lembrete agendado: hora do colírio, remédio, meu diário

De observar o mundo sob um olhar oculto, não mais que imaginário.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 31/12/2023
Reeditado em 31/12/2023
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