Ser maranhense

Ser maranhense

Se eu não fosse maranhense,

Gostaria de ser mesmo assim,

Pois minha alma é de lá

E tudo de lá está em mim,

O cheiro úmido dos manguezais

Ao longo do Rio Anil em atalaia

Debruçados a saudarem as águas

Trazidas pelas ondas da praia,

O desenho trançado dos cofos

Tecidos ao latido quase louco

Dos machados açoitados

Pelas mãos de quebrarem coco,

O trotar audaz das matracas

Cadenciando a cantiga aflita

Do vaqueiro do boi-bumbá

Deixando a lua mais bonita,

Os lamentos tristes dos tambores

Que de Alcântara vêm e vão

No mesmo pacote que viajam

As lendas da escravidão,

Os paneiros escancarados

Como bocas de sorriso amarelo

Com dentes de camarões secos

E hálito de resíduo paralelo,

Os ruídos sombrios dos ventos

Que fogem do mar em arquejos

E se entranham nas ladeiras

Estreitas das ruínas de azulejos

E até o sotaque composto

Pelo preciosismo da fala

Ainda me faz ser de lá ou

Tudo lá em mim se instala.

Se eu não fosse maranhense,

Gostaria de ser mesmo assim,

Pois minha alma é de lá

E tudo de lá está em mim....