Todo Dia, Rápido
Quando escrevo rápido
Acelerando em frases, pensamentos
As palavras se tropeçam, se apertam
O trânsito
E no raciocínio irritado e embaralhado
Nas buzinas raivosas, cheiro de letra queimada
As palavras se misturam, viram nada
Nada viram
Foi no sol de rachar, no engolir a seco
Que se fez a selva, que se fez o selvagem
Que se fez a língua, que se fez o homem
Primata da selva de pedra
Quando paro e penso, eu freio pra pensar
Quem corre se irrita, para e grita
E no tumulto eu pego a primeira esquerda
O desvio, uma rua que eu nunca vi
Certezas que nunca li
E de tantas certezas e esquinas sem placas
Estou certo de que não há certeza alguma
E até disso eu dúvido
Mas acredito
Num mural de palavras, quais você gostaria de ter escrito?
Nas placas por aí, nas ruas sem dono
Qual casa é a tua?
Pra qual rua você foi se mudar?
E onde eu estava com a cabeça?
Nas nuvens sim, não lá em cima...
Lá é alto
(Tenho medo de altura)
O retrovisor me avisa que alguém vem chegando
Rápido e impetuoso
Na raiva do ronco do seu motor
E na sua estúpidez passa e diz:
"Tá perdido turista?"
...
Estou.
Vago por ruas que não conheço
Esqueço os nomes
Prédios me guiam pelas cores
Aquele é azul, o outro amarelo
Pessoas vão e vem
E todas tem suas pressas
Qual é a pressa?
A paisagem é tão bonita
Se me perdi, acho que faço daqui minha casa
Do teu perfume, a lembrança
Pra não me esquecer de onde vim
E poder seguir pra onde eu quero ir...
Sem pressa.
E de vida e tristeza divago pra ti
E de ti, já rápido, vou pro trabalho
E do trabalho vou a nocaute, durmo
Acordo e a vida se apresenta novamente
E é no rápido ciclo dessas coisas que eu acabo pensando
Que talvez
Só talvez...
Eu não devesse ir tão rápido.