GRITO NEGRO
GRITO NEGRO
Adair André da Silva
Minha terra, invadiram,
Minha casa, arrombaram,
Do meu leito, arrancaram,
De minha família, separaram.
Me fizeram de objeto
Jogado no porão imundo
Entre gritos e chicotes
Me lançaram noutro mundo.
Minha vida, ignoraram,
Com outro nome, me batizaram,
Meu trabalho, exploraram,
Com violência me trataram.
Alguns morreram no caminho
Outros, resistiram, lutaram, chegaram
Numa árdua busca de liberdade
Que ainda não conquistaram.
A chibata que ontem batia
Hoje ainda bate igualmente
Nessa sociedade carregada de hipocrisia
Machuca de forma diferente.
Basta ser humano
Para ver além da cor
Ter consciência, não ser insano
Pra entender que é o caráter que dá o valor.
Meu orgulho, embora oculto
Pela dor das chibatadas
Me induz à tristeza
Da dificuldade encontrada.
Mesmo assim ainda carrego
A alegria estampada
De ser negro, valente e forte
Construtor da minha estrada.
@adairandre _