Filho do Passado

E há silêncios na rua do meu medo

por entre as vagas ondas d'um Sol abrasador

e páira pelo ar o suspiro d'um segredo

deixando em quem lá passa desamor.

Sou na vida um deserdado sem esperança

um filho do Passado só e triste

Alguém que já perdeu a confiança

numa vida que não vive, só resiste.

Sou um filho da poesia, endiabrado,

a pausa entre as notas que faz a melodia

a memória d'um mendigo rejeitado

que vai matando a vida dia a dia.

Sou alguém qu'inda se lembra do ter sido

uma culpa que não tem pai, bastarda,

os olhos d'um desenganado, vencido

ou até o Pranto de Maria Parda.