MEU PEDAÇO DE CHÃO
Pedaço de chão
Na verdade
Uma imensidão
De terras distantes
Que um dia alguém
A realidade mudou
E uma parte
Para nós reivindicou
E no Vale do Gavião
Se transformou
De São Sebastião da Mata
A São Manoel chegou
O progresso acontecendo
Gente de longe trazendo
Buscando vida nova
Os italianos chegaram
Veio ferreiro
Carpinteiro
Agricultor e meeiro
Veio até aventureiro
Homenageando o Coronel
Eugenópolis se tornou
A ferrovia trouxe progresso
E comunicação com a capital
A estação
O seu Dutra
O Jarbas
E o Piguitito
Administravam
Grandes fazendas
Café e pecuária os morros ocuparam
Desmatar foi preciso
Era desenvolvimento
Rompendo mata a dentro
Mas a beleza natural teimou
Ficou
A escola também chegou
E continuou
Em prédio doado
Pelo Coronel cidadão
Se instalou
A política foi sempre seu forte
Até hoje acirrada
Vida social sempre teve
Tradições herdadas
Veio até a justiça
A Comarca se instalou
Fórum erigido em casa de morada
Com sala do júri e de audiências
Os cartórios acompanharam
O governo enviou os fiscais e coletores
O Rui que era
Vale de Mattos
Também era o Coletor do Estado
A poesia
Em tudo presente
A literatura contemporânea
De boca em boca se espalhou
Na boca
Da mata
Da noite e
Do povo
Persistia
Chegavam notícias da capital
Fazia-se notícia local
O Labor do Onofre de Barros
Se encarregava de veicular
Tinham os irmãos
Homero e Dé
Os barbeiros violonistas
Onde todos
Aparavam os cabelos
O Morô Morariais
Da sua carroça
Gritava
E a criançada encantava
Enquanto o leite da roça
Distribuía
Mas se não morou
Não mora mais
Mudou-se para Muriaé
Seu Ernesto
O delegado
Os infratores, mandava prender
O cabo Ciro e o soldado Domingos
A ordem cumpria
Mas o Fernando Caldas
Defendia
A casa Barbuto
Administrada
Pelo seu Dedé
E Dona Laura
Quase tudo fornecia
Cal
Cimento e qualquer material
Os carroceiros
Tonico Barramansa
Toin Terra
E Luiz Veroneze
Entregavam
E o seu gerente
Seu Clarindo de Barros
De terno e gravata
No primeiro
E único
Posto de combustíveis
Da cidade
Os automóveis abastecia
E o hotel Comércio
O João Diogo dirigia
O Seu Geraldo
E o seu filho Santinho
Da Mecânica São Geraldo
Os carros consertavam
Nos bares do Mário Diniz
E do Rafael Barbuto
A gente jogava sinuca
Tinha ainda o Mundico
A Penha cozinheira
A Biana lavadeira
E o Zé D'água tintureiro
Fabricada pelo Coleta
A manteiga Mimosa
Tornou-se famosa
Quem vendia era o Loureiro
Que para a capital despachava
Maternidade não havia
Mas Dona Emília
Dava conta
Aos recém chegados
Ajudava dar a luz
Totoin Felisberto
Além de chofer
Documentava os eventos
E fazia fotos para documentos
O Miguelzinho
No alto falante anunciava
E aos aniversariantes
Músicas dedicava
E as domingueiras
Anunciava
No Clube Eugenopolense
A sociedade se divertia
Baile que a madrugada rompia
E a famosa domingueira
Semanalmente acontecia
O carnaval
Sempre muito animado
Bloco de rua
Bem organizado
Bailes noturnos
E as matinês
Quatro dias duravam
Enquanto as professoras
Dona Ilka, Dona Norma
Dona Iris, Dona Zilda
Dona Áurea Ramos e muitas outras
No Américo Lopes ensinavam
O padre Vicente Cariou
O sino da Igreja tocava
Missa e enterro anunciava
Padre Thimóteo o seminário fundou
E comandou
As Irmãs da Providência
O Instituto Imaculada Conceição
Fundaram
Ensinaram
E as primeiras professoras
Formaram
O fundador e diretor do Ginásio
Doutor Carlos Barbuto
No seu consultório
Dos pacientes ainda cuidava
Nas farmácias
Celso Meireles
E o Levindo Araujo
Injeções aplicavam
Mediam a pressão
E remédios manipulavam
Enquanto a Dona Chiquita
Com naturalidade
Se encarregava da Assistência Social
Confortava a todos
Os carentes da cidade
O seu Jovino
E o Chiquinho dentista
Da boca do povo
Cuidavam
Os dentes doloridos arrancando
E os demais obturando
O seu Abílio
Primeiro e único Alfaiate
Costurava os ternos
Para os casamentos
E outras festas
Antenor Mazorche
Suínos abatia
A carne vendia
E o leite do dia a dia
Para a população fornecia
O João Bangolão
Além de ferreiro
Cuidava da água
Que o povo consumia
Enquanto o João Barradas
Em sua venda
Atendia o povo
Que da cidade saía
Do pão de cada dia
O Loca se encarregava
Sua padaria
Os moradores do centro
Abastecia
Mas no Catete
Era o seu Alcides
Quem distribuía
E quando em doces pensava
Em um só lugar encontrava
Era na venda
Do seu Valter
E de Dona Mariazinha
Também tinha
O Batoque
E o Bazar Sta Terezinha
De Inadir Barroso
Que de tudo vendiam
Enquanto o arroz
Por conta dos Botelho ficava
Os Porcaro do café se encarregavam
Beneficiavam
E comercializavam
O João Cruz
Pecuarista de sucesso
Fornecia o leite
Que o Zezito
Em creme transformava
E para o Rio de Janeiro
Despachava
O Niquito
Grande historiador
Nossa história registrou
E na enxada pegou
Não era prefeito de gabinete
Ponte e estrada construiu
Idealizou
E tornou realidade
O bairro de Lourdes
Primeiro bairro planejado da cidade
Assim foi meu pedaço de chão
Naquele tempo
O meu tempo de menino
©NeodoAC
Neodo Ambrosio de Castro é escritor, romancista, contista, poeta, Licenciado em Português -Literatura, Jornalista e Eugenopolense