Professora

Quando a professora, distraída, deixa outro aluno ir beber água,

Mas a mim, ela barra, me vem a vontade de algazarra,

um verdadeiro rebuliço, fico enciumado até o desperdício,

Todos me olham, dando risada, me sinto um estrupício

Penso na torneira, com a sede a me matar,

Mas a professora, implacável, sorri, como se quisesse me sacanear,

Penso no colega feliz, com a sua beberagem,

Eu fico ali, na sala, perdido, me incomodando até com a paisagem.

A água me chama, meu corpo implora por um gole,

A garganta em brasa, nada há que a console,

Mas a professora ignora, finge nem perceber,

Parece que só quer mesmo é me enlouquecer.

E assim, entre suspiros e uma lágrima no olhar,

Vejo o colega voltar, satisfeito, sem nem acreditar,

Eu sedento, como um beduíno no deserto,

Naquela sala de aula, a minha sede é determinada por um decreto.

Então, quando decido agir, sem demora, num ato de coragem,

Pegando um copinho d'água escondido na minha bagagem,

A professora me permite ir beber água, com um sorriso ninja,

Não teme que a minha sede, também a atinja.

E assim, arrasto até lá fora a minha desgraça,

a professora, quando passo, quase me abraça,

parece feliz com a própria trapaça,

me pergunto quem é a criança nessa história,

ser da turma do fundo, não me torna escória,

Talvez ela esteja usando fio dental, com arame farpado,

ou com o amor da sua vida, possa ter brigado,

sinto que aquilo que aprendi hoje, estará errado,

se eu arrastar pelo resto do meu caminho,

essa franja do meu passado.

Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 15/10/2023
Código do texto: T7909007
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