Professora
Quando a professora, distraída, deixa outro aluno ir beber água,
Mas a mim, ela barra, me vem a vontade de algazarra,
um verdadeiro rebuliço, fico enciumado até o desperdício,
Todos me olham, dando risada, me sinto um estrupício
Penso na torneira, com a sede a me matar,
Mas a professora, implacável, sorri, como se quisesse me sacanear,
Penso no colega feliz, com a sua beberagem,
Eu fico ali, na sala, perdido, me incomodando até com a paisagem.
A água me chama, meu corpo implora por um gole,
A garganta em brasa, nada há que a console,
Mas a professora ignora, finge nem perceber,
Parece que só quer mesmo é me enlouquecer.
E assim, entre suspiros e uma lágrima no olhar,
Vejo o colega voltar, satisfeito, sem nem acreditar,
Eu sedento, como um beduíno no deserto,
Naquela sala de aula, a minha sede é determinada por um decreto.
Então, quando decido agir, sem demora, num ato de coragem,
Pegando um copinho d'água escondido na minha bagagem,
A professora me permite ir beber água, com um sorriso ninja,
Não teme que a minha sede, também a atinja.
E assim, arrasto até lá fora a minha desgraça,
a professora, quando passo, quase me abraça,
parece feliz com a própria trapaça,
me pergunto quem é a criança nessa história,
ser da turma do fundo, não me torna escória,
Talvez ela esteja usando fio dental, com arame farpado,
ou com o amor da sua vida, possa ter brigado,
sinto que aquilo que aprendi hoje, estará errado,
se eu arrastar pelo resto do meu caminho,
essa franja do meu passado.
Barthes.