Escrevo como quem vai morrer
Escrevo como quem vai morrer
Em uma compulsão
por fazer me entender
Escrevendo a lição
que me ponho a cada dia aprender
Escrevo como quem vai morrer
Pois sei que é assim que se é
Porque por mais que se quer
O tempo estagnar
E tudo eterno ficar
O processo do evoluir
É cada dia mais adiante ir
Escrevo como quem vai morrer
Pois morro um pouco a cada dia
Morro para o que fui
Para os sonhos que tive e realizei
De tantos outros que abdiquei
E para outros que não fazem mais sentido algum
Escrevo como quem vai morrer
Com uma paz imensa em meu peito
De aqui já ter feito
O que pra hoje me propus
E é só isso que importa
Ser o que se é, hoje
Autêntica e verdadeira
Escrevo como quem vai morrer
E os versos vem como enxurrada
Que tudo leva
E a tudo lava
Tirando os entulhos do caminho.
Escrevo como quem vai morrer
E sei que assim será
E nada temo
Pelo contrário
Assim espero e aspiro
Quando minha missão aqui encerrar
Escrevo como quem vai morrer
De frio
De fome
De dor
De amor
De abandono
Ou de coração grande ou partido
Como tantos por aqui morrem
Como alguém que se infla de pensamentos
E é devorado por palavras que não cabem em si
Escrevo como quem vai morrer
E morro feliz
Por minha sina cumprir
De jorrar em palavras
Aquilo que fui e sou
Tudo o que coube
E extravasou de mim.
Ana Lu Portes, Caputira, 27 de julho, 2023