Lamber as feridas
Existem feridas em nós
Que surgem de repente
Num esbarrao imprudente
Ou num ataque inesperado
As feridas que jorram sangue
Assustam e incomodam
Aos outros e a nós mesmos
Geram repulsa e medo
E precisam ser tratadas
Vendo meu cao a lamber sua ferida
Que fora tratada e medicada
De um pequeno tumor benigno
Que ele tinha desde nascença
E foi crescendo junto com ele
Apreendi algumas lições
Este pequeno tumor sempre o acompanhou
E nenhum dano o causou
Até ser machucado em briga com um outro cão
Dor me causou vê lo assim
E por uma consulta passou
E a medicação adequada para o local usou.
Porém uma lição ele ensinou
Algo que me provocou um asco inicial
O tumor ferido o cão mordeu e mastigou
E o que antes parecia preocupante
E passível de necrose
Ele simplesmente eliminou
Tal como este tumor
Que ele sempre carregou
Agora na maturidade
Do seu corpo ele arrancou
Um ensinamento deixou
Aos olhos de quem viu
Pareceu loucura e dolorido
Mas pra ele que o carregava consigo
Ainda que fosse benigno
Este incômodo de si ele tirou
Quantos tumores precisamos arrancar em nós?
So nós sabemos o quanto pode algo nos pesar
Quantas feridas precisamos lamber
Para poder cicatrizar?
Quanto precisamos digerir
E eliminar
Dentro e fora de nós
De algo que está a nos incomodar?
Por mais difícil
Dolorido e irracional
Que possa parecer
O que o meu cao se pós a fazer
É oso caminho que muitas vezes
Precisamos seguir
Para livres, leves e curados possamos fluir.
O cão passa bem, sem o tumor
Sem sangrar e com o local cicatrizado
Lições que a mãe natureza
E os seu seres estão sempre a nós ensinar.
Ana Lu Portes, Juiz de Fora, 16 de julho, 2023