Cãozinho de Sinhá
Eu queria saber o que você sentiu
Eu queria saber o que você pensou
Eu queria saber qual foi seu primeiro pensamento
Quando soube que o menino caiu do seu apartamento
Não caiu da sua sacada, claro
Mas caiu do seu apartamento!
- Vá logo e não demore
Leve, passeie com meu cachorro!
Só não se demore. Não tenho tempo para filho de pobre.
Minha manicure, meu cachorro, seu não choro são, para mim,
Mais importantes que sua prole!
Como é linda esta Liberdade!
Que cada vez mais parece ter sido
Realmente assinada à lápis!
A tal Lei Branca, Dourada
Áurea
Ela que cabe na bala perdida
Que acerta a negra criança, na sala,
A brincar dentro de casa
Que aperta, sob o branco joelho, a
Garanta do moço na calçada!
Cabe também nos oitenta crivos
No carro da família
Na camiseta de escola do menino que caminha
Em Marielle, em Ágata...
E com estas, entre tantos outros,
Encontre, Miguel, sua paz!
Uma paz que esta liberdade não traz
Não ligue para aquele que diz
"Todos morrem", tanto faz
Não se incomode com o
General da Saúde
Nem com aquele que não lhe
Segurou antes do solo
Lembre-se apenas daquela que lhe deu colo
E agora chora, por ter tido de passear
Com o cachorrinho da Sinhá
E, infelizmente, não chegou a tempo
De lhe ouvir chorar.