Cãozinho de Sinhá

Eu queria saber o que você sentiu

Eu queria saber o que você pensou

Eu queria saber qual foi seu primeiro pensamento

Quando soube que o menino caiu do seu apartamento

Não caiu da sua sacada, claro

Mas caiu do seu apartamento!

- Vá logo e não demore

Leve, passeie com meu cachorro!

Só não se demore. Não tenho tempo para filho de pobre.

Minha manicure, meu cachorro, seu não choro são, para mim,

Mais importantes que sua prole!

Como é linda esta Liberdade!

Que cada vez mais parece ter sido

Realmente assinada à lápis!

A tal Lei Branca, Dourada

Áurea

Ela que cabe na bala perdida

Que acerta a negra criança, na sala,

A brincar dentro de casa

Que aperta, sob o branco joelho, a

Garanta do moço na calçada!

Cabe também nos oitenta crivos

No carro da família

Na camiseta de escola do menino que caminha

Em Marielle, em Ágata...

E com estas, entre tantos outros,

Encontre, Miguel, sua paz!

Uma paz que esta liberdade não traz

Não ligue para aquele que diz

"Todos morrem", tanto faz

Não se incomode com o

General da Saúde

Nem com aquele que não lhe

Segurou antes do solo

Lembre-se apenas daquela que lhe deu colo

E agora chora, por ter tido de passear

Com o cachorrinho da Sinhá

E, infelizmente, não chegou a tempo

De lhe ouvir chorar.

Rubens Lôbo
Enviado por Rubens Lôbo em 05/06/2023
Código do texto: T7806371
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.