Flor de maio
Contigo aprendi, em tudo há poesia
e não há como negá-la ou fingir que não existe.
No olhar compreensivo do colega de trabalho.
No saguão do elevador o guarda em sentinela.
A kombi lotada e o servidor público com olhar perdido.
No semáforo que direciona o comportamento do motorista.
O malabarista que desenha linhas de fogo no ar
e passa recolhendo moedas no Eixo Monumental.
No ponto de ônibus mal iluminado da W3 Norte.
O casal de namorados sentados no meio-fio.
No ipê roxo que enfeita a cidade.
Na flor de maio se abrindo na cozinha
alegrando toda manhã o dia todo, em tudo a poesia brinca de esconde-esconde:
por um lado ela se oferece à simplicidade de uma frase,
por outro se resguarda com um disfarce inexpressivo.
Intervalo no dia-a-dia, rame-rame das coisas,
leva-e-traz dos pensamentos,
o poeta se entrega e busca alento
no jogo de desvendá-la... de emoldurar em um poema
as contradições da vida mesma.