Coser, bordar e cozinhar...

A costura sempre foi algo que achei lindo

Tentei aprender na adolescência

Queria fazer roupas para minhas bonecas

E pra mim também...

Viajava na imaginação

Rabiscava desenhos de vestidos

E peças sofisticadas

Que eu jamais me veria usando

Mas minhas bonecas, quem sabe

Gostava de uma boneca feia e desajeitada que tinha

Que havia sido encontrada no lixo

Me identificava com ela

Porque ela se sabia feia e este era seu diferencial

A apelidei de Eteia (feminino de Et)

Pois de tão estranha parecia de outro planeta.

Bordar também foi algo que me arrisquei

Fazer ponto cruz

e até alguns biquinhos em pano de prato com crochê

Mas a visão deficitária não contribuía muito

E as agulhadas nas pontas dos dedos faziam tatuagens de tanto furar

Me sentia frustrada por não ser um exemplo

De aptidões do lar

Moça bem dotada

Boa pra casar

Precisava saber bordar, coser e cozinhar.

Imagina não ter as peças de enxoval feitas a mão

Pela prendada esposa

Sim, eu ainda peguei resquícios deste tempo.

Cozinhar então....

Eu cheguei a muitas vezes tentar

Mas comida ficava empapada

Ou muito sal, ou sem ele

Desastrada e deixava tudo queimar

E de tanta reclamação

Fui acabando deixando pra lá...

E assim fui cozendo

E bordando minhas insatisfações

Cozinhando os julgamentos

Cortando as palpitações

E chegando a conclusão

Que sou muito mais do ler, do que do lar

O que não me impede de

Ser quem o que eu queira

Em cada momento,

E neles visitar ou ficar...

Ana Lu Portes Juiz de Fora 23 de abril, 2023

Ana Lú Portes
Enviado por Ana Lú Portes em 23/04/2023
Reeditado em 23/04/2023
Código do texto: T7770683
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