O gosto.
De um bom café,feito com a verdade que um fim de noite trás.
Do cigarro tragado, no início de um festa sem ritmo.
De um gole seco de vinho,na esperança de ficar em paz.
Do silêncio que importuna,todas as minhas ideias de sanidade.
Da infância imprevisível,onde deixei todas as chances de acertar.
De ficar sozinho,depois perceber que na verdade sempre foi assim.
De cada abraço,que me aquecem nos meus dias de muito frio.
Da melodia repetida tantas vezes,até que se torne nossa preferida.
De terra quente,banhada de súbito pela chuva generosa e fria.
Da impaciência amarga,que nos tira todos os segundos de lucidez.
Do tempero forte,que minha vó trazia nas mãos, em apelos por sanar a fome.
Das lembranças distantes,que me trazem o fardo de uma existência sem valor.
Do destino,que me impõe viver nas sombras do que eu mesmo quis pra mim.
Da colheita rasa,das fadigas e mazelas semeadas junto ao solo árido.
Da fé em tudo,sem aceitar que um dia nem mesmo ela nos trará certezas.
De ser justo,ludibriados pela vaidade de que somos sim capazes.
Do amor real,que tivemos em dias sem angustias, no colo de mãe.
Do ódio necessário,que nos faz saber quem realmente somos.
Da crueldade,que interrompe os sonhos e mata a capacidade de construir.
Do tempo perdido,esperando que os esforços sejam válidos.
Da certeza de chegar,alimentando os vultos de expectativas dia pós dia.
Das culpas insufladas,que nos açoitam a carne e confundem nossas mentes.
De cada erro necessário,usados para confundir os olhos que nos cercam.
Do renascer imprescindível,muitas vezes deixado em segundo plano.
Do amargo sabor da vida,sem a pretensão coerente de liberdade plena.
De todos os gostos possíveis,amor,ódio,paz,tormenta,calmaria e aqueles insiptos que não nos permitem conceitos.
Quero sentir,mesmo que por ulaguns instantes.
O gosto!