Cozinhando minha vergonha

"Mulher que e mulher tem que saber dirigir bem um fogão"

"Mãe que e mãe tem que levar afeto no alimento que dá a prole"

"Criança estabanada tem que ficar longe de fogo"

"Sua comida não desce, deixa que eu faço"

Alguns exemplos de frases que levam a tantos gatilhos de insegurança, medo, retração e frustração....

Crenças incutidas em nossa memória ancestral de funções estabelecidas pelo patriarcalismo como obrigatórias, sem o serem. Frutos de anos em que as mulheres foram subjugadas apenas aos afazeres do lar e portanto deviam cumpri Los com maestria. Não que exerce Los seja algo ruim, porém, o seu valor enquanto pessoa e mulher não deve limitar se aos títulos e cobranças de quem não percorreu o seu trajeto.

Cobranças externas e internas, de vergonhas que cozinhamos no fogão de nossa essência como uma verdade ou obrigação, com ingredientes de ódio, misoginia e repressão que nos são jogados diariamente ao longo dos anos.

Coser, cozinhar, misturar linhas e temperos, na vida e para gerar vida, calor e aconchego.

E preciso em muitos momentos da trajetória parar embaixo dos limoeiros de nossa vida, colher os limões e fazer sucos, batidinhas e caipirinhas com os limões do que azeda nossa vida, nos embriagarmos de nós mesmos e apertar o botão F para as opiniões alheias, de quem não viveu ou vive em nossa pele.

Ana Lu Portes Juiz de Fora, 2 de março

Ana Lú Portes
Enviado por Ana Lú Portes em 02/03/2023
Reeditado em 02/03/2023
Código do texto: T7731175
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