Me sinto vulnerável
Me sinto vulnerável quando
não tenho habilidades com atividades básicas
que a maioria das pessoas executa com facilidade
como organizar e enviar documentos no computador, cozinhar, costurar, dirigir...
Mas isso não me faz imperfeita,
apenas, limitada.
Me sinto vulnerável quando
tenho crises de ansiedade
e perco o controle sobre minhas emoções e atitudes,
grito, me irrito, choro, peço desculpas...
Mas isso não me torna fraca,
apenas, humana.
Me sinto vulnerável quando
minha razão e emoção não entram em acordo
sobre o rumo a tomar nas situações,
me causando dúvidas e indecisões
Mas isso não me faz insegura,
Apenas, sensível.
Me sinto vulnerável quando
pra não ter que desagradar alguém
acabo me causando danos emocionais
Mas isso não me faz ser menor
Apenas me lembra que preciso me priorizar.
Me sinto vulnerável quando
preciso fugir de lugares e situações
que me aprisionam e me fazem mal
Mas isso não me faz covarde
Apenas demonstra auto amor e prudência
Me sinto vulnerável quando
preciso e peço ajuda, colo, escuta e acolhida
Mas isso não me torna carente,
Apenas, receptiva
Me sinto vulnerável quando
não compreendo o que dizem
ou não me faço compreender
Mas isso não me faz incomunicável
Apenas me lembra que é preciso
uma atenção maior na linguagem usada
Me sinto vulnerável quando
os excessos me atordoam, seja de barulho, de luz,
de fala, de informações
Mas isso não me torna confusa ou estranha
Apenas, diferente.
Me sinto vulnerável quando
a compreensão literal me traz uma visão distorcida, quando não entendo ironias e deboches.
Mas isso não me faz burra ou ingênua
Apenas, com uma percepção diversificada que deve ser respeitada.
Me sinto vulnerável quando
os detalhes me ferem, angustiam e marcam ,
quando as entrelinhas bailam em busca de clareza
na escuridão da falta de explicações.
Mas isto não me torna chata ou anti social
Apenas, detalhista
Me sinto vulnerável quando
brincam com meus sentimentos,
ou não lhe dão o devido valor
Mas isso não me faz inferior
Apenas me lembra que devo ser mais seletiva
em minhas relações e ter a primazia em minha vida.
Me sinto vulnerável quando
me jogo intensamente
em sonhos, projetos e amores
Mas isso não me torna louca
Apenas, coerente
Me sinto vulnerável quando
os ecos dos traumas vividos
teimam em ressoar em meu interior
Mas isso não me torna medrosa
Apenas, genuína.
Me sinto vulnerável quando
minha forma física ou meu jeito de ser
se contrapõe aos padrões
impostos pela sociedade
Mas isso não me torna inadequada,
Apenas, única.
Me sinto vulnerável quando
procrastino decisões e atitudes
trazendo frustração e culpa
Mas isso não me torna uma preguiçosa
ou insensata,
Apenas alguém que precisa organizar a vida
passo a passo.
Me sinto vulnerável quando
meus joelhos travam na caminhada
ou minha visão distorce a imagem,
ou a labirintite faz tudo rodar, em horas inadequadas,
Mas isto não me diminui,
Apenas aponta o exercício da resiliência.
Me sinto vulnerável quando
percebo erros e falhas nos diversos papéis que desempenho, seja nas relações de amizades, maternidade, fraternidade, filiação, amores...
Mas isto não me torna incapaz
Apenas aponta para os desafios diários nas relações e exercita a auto aceitação da perfeita imperfeição que reside, na ambiguidade da vida
Me sinto vulnerável quando
absorvo tal qual esponja as situações
e sentimentos ao meu redor
Isso não me faz ser bruxa ou mística
( embora me sinta assim)
Mas, aponta para a necessidade de
auto conhecimento e auto preservação.
Me sinto vulnerável quando
me sinto impotente diante da dor do outro
não conseguindo fazer muito
mas auxiliando com o que consigo
Mas isso não me faz dramática
Apenas, empata
Enfim, me sinto vulnerável quando reconheço
minhas imperfeições e não as condeno
julgo, culpo, ou abomino
Mas resido na perfeita imperfeição de ser eu mesma
Na fortaleza que a vulnerabilidade
me permite habitar.
Ana Lu Portes, Juiz de Fora, 23 de fevereiro, 2023